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          O Zé é meu irmão mais velho e pai do meu sobrinho Lui.


          O Zé tem um coração grande e é o tipo de pessoa que pensa e faz quase tudo pros outros.


          O Zé é professor de Química em Marília e está noivo da Érica.


          A Érica tem um filho que toca violão bem.


          O Zé, quando nossos pais se separaram quis assumir as responsabilidades de chefe da casa. Mas nós (os outros irmãos) não quisemos. Até porque ele não tinha idade para isso.


          O Zé vive brigando com a minha mãe por motivo bobo. Eu me mudei de Marília e nunca mais briguei com minha mãe. Nem por motivo bobo nem por motivo sério.


          O Zé é quem construiu a casa e a piscina da chácara em Marília. Na verdade foi ele quem pagou para que os outros fizessem.


          O Zé tinha cachorros, mas não tem mais.


          O Lui tem medo de cachorros.


          O Zé é quem assa a carne quando fazemos churrasco na chácara. Eu não faço nada, só chamo as pessoas, compro cerveja e bebo cerveja. Converso e toco violão.


          O Zé, além de assar a carne, compra a carne, trás a carne, prepara a carne, leva e trás a mãe quando ela bebe muita caipirinha, leva e trás o Lui pra lá e pra cá. Se a carne acaba, sai e compra mais carne. Pega a cerveja no Freezer e oferece pra todo mundo, na mais pura e generosa hospitalidade.


          O Zé bebe cerveja e não fica bêbado. Porque é um homem responsável e tem um filho pra cuidar.


          Eu bebo e fico bêbado e continuo bebendo. Porque em Marília sou um homem responsável em férias. Além do mais durmo na chácara, justamente para não ter que me preocupar com o caminho de volta. E não tenho filho pra cuidar.


          O Zé me deu de presente um violão com cordas de aço que era do Chico e que é muito, muito gostoso de tocar. Apesar de estar velho e trastejando, não dói a mão e tem um timbre bacana. Presente único, que eu nunca vou esquecer e nem ter como retribuir.


          Torço para que você e a Érica se casem e tenham a paciência necessária para conviverem juntos, sem que um incomode o outro.


          Torço para que o filho da Érica ganhe um violão melhor (mesmo que seja eu quem tenha que dar).


          Torço para que o Lui perca o medo de cachorros. Pelo menos dos mansos.


          Torço para que o Zé e a mãe briguem somente para nos fazer dar risada.


          Torço para que o Corinthians ganhe todos os jogos contra o São Paulo.


          Torço para que o São Paulo só ganhe do Palmeiras.


          Torço para que eu vá mais para Marília.


          Vamos consertar a piscina. Vamos nadar quando estiver sol e vamos ver a molecada crescendo.


          E vamos ver os anos passando. E vamos estar cada vez mais tranqüilos.


          E vamos ver novamente o Corinthians ser campeão e o São Paulo novamente na segunda. E vamos ver o MAC golear o Flamengo em pleno Maracanã lotado. De goleada.


          E vamos ver o Lui se desiludir com o São Paulo e assumir o comando da Fiel.


          Vamos ver.


          Beijão.


          Rato.

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